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Psicanálise na clínica de atenção psicossocial

Na psicanálise, a ética do cuidado ocupa fundamentalmente posição de escuta à singularidade do sujeito. Em que pese os diversos avanços após a reforma psiquiátrica, com a mudança de um modelo de cuidado predominantemente hospitalocêntrico, precisamos atentar aos permanentes desafios frente a lógicas de um cuidado higienista e padronizador, a fim de recusarmos homogeneizar os sujeitos.

A inclusão social e o resgate da cidadania não são, na perspectiva analítica, meros objetivos reabilitadores a serem  alcançados, mas sim vetores integrantes de um campo clínico ampliado. Cada sujeito encontrará, a seu modo, suas possibilidades de compartilhar com o outro da vida social.
É ao abrir espaço para o que insiste no real do sintoma e, portanto, de real no sujeito que o analista opera. É a ética do desejo, desejo de saber que, assim, norteia o trabalho do analista tanto no consultório quanto em um dispositivo institucional como o CAPS, por exemplo. Afirmar a Psicanálise como um modo de operação na Clínica da Atenção Psicossocial é fazer face à dimensão do sujeito que não é redutível a enquadramentos adequáveis à ordem padronizadora.
O que Lacan propõe, ao tomar o sujeito a partir do inconsciente, é um outro tipo de prática: fazer do desejo inconsciente o objeto norteador da análise, o que conduz necessariamente a um posicionamento muito particular. Quando Lacan questiona-se sobre que caminhos éticos a psicanálise poderia trilhar, ele encontra na estrutura do sujeito – um sujeito constituído pela linguagem – a vocação ética da psicanálise, exatamente ali onde a estrutura caminha com dificuldade: no campo do desejo. Lacan situa a ética da psicanálise na política do falta-a-ser: é nesta orientação – baseada na alteridade do inconsciente e na falta constitutiva do sujeito – que é possível uma ética para a psicanálise. Ao propor uma ética da psicanálise, Lacan sustenta esta prática na escuta do desejo e da responsabilidade pelo que o habita.

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